Receio com Dólar Faz BC Manter a Taxa de Juros Inalterada e pega o Mercado de Surpresa

18 maio

Estamos chegando na metade do ano e a economia continua parada quase voltando, desemprego não diminui e, para piorar, o dólar disparou. O que fazer com seus investimentos?

Na tarde de ontem, tudo indicava (pelo menos pela grande maioria do mercado) que o Banco Central iria reduzir mais uma vez a taxa de juros brasileira, de 6,5% para 6,25% ao ano. A análise do cenário econômico (atividade e inflação) e sua perspectiva indicavam que era possível (do ponto de vista da inflação) e necessária (do ponto de vista do crescimento da economia em 2018) mais uma injeção de ânimo, para tentar recuperar o tempo perdido até esse momento. Acontece que um fator vindo da terra de Donald Trump mudou tudo isso. A escalada das taxas dos títulos do tesouro americano fez com que o dólar disparasse 15% nos últimos 3 meses.

Mas o que é e por que as taxas do tesouro americano subiram tanto (de 2,4% em Janeiro para 3,11% ao ano hoje)?

Assim como no Brasil, onde temos os títulos públicos que qualquer cidadão pode comprar no tesouro direto a partir de R$ 30,00, nos EUA, temos os Treasuries (títulos do governo americano), conhecidos por serem o porto seguro dos investidores mundo afora. Os Treasuries americanos possuem o carimbo de investimento mais seguro do planeta. Logo, quando sua taxa sobe tanto como subiu em 2018, a tendência natural dos investidores é correr para esse investimento deixando de lado investimentos mais arriscados de países emergentes (como a bolsa e a moeda brasileira por exemplo). Ou seja, o fluxo de dinheiro entrando nos EUA aumentou muito, refletindo na escalada do Dólar.

Ok Igor, está explicado a disparada do Dólar, agora por que estes Treasuries subiram tanto esse ano?

Os 2 principais motivos são: o endividamento americano e as especulações sobre o aumento da inflação. Vamos começar pelo 1º. Desde a grande crise do subprime americano em 2008, a relação divida/ PIB do país saiu de algo em torno de 70% para 105%. De fato, esse aumento serviu para tirar os EUA da crise de crédito profunda que assolou o país e levá-lo há quase 10 anos de crescimento constante da economia em torno de 2% ao ano e com uma taxa de desemprego muito baixa. Porém, não satisfeito com aqueles 2%, Donald Trump costurou uma reforma tributária que foi aprovada no Congresso e transformada em lei. A nova lei reduziu a carga tributária de pessoas físicas e empresas, aumentou a dedução padrão, deu incentivos para que corporações multinacionais trouxessem a solo americano os lucros obtidos no exterior e criou outros incentivos para o investimento na iniciativa privada.

 

O impacto desses cortes de impostos sobre o déficit orçamentário é enorme; estima-se que chegará a US$ 1,4 trilhão nos próximos dez anos. Supõe-se que os incentivos criarão estímulos suficientes para que o maior recolhimento de impostos sobre a produção adicional compense em grande parte esse rombo. As evidências inicias indicam que tal processo não está saindo como planejado. A economia produziu um crescimento de 2,3% no primeiro trimestre de 2018, nível apenas ligeiramente melhor do que a média de 2,2%, mantida desde o fim da última recessão, em 2009.

 

Estimativas orçamentárias atualizadas já estão mais altas do que as projetadas quando a reforma fiscal foi aprovada. As corporações estão usando o grande fluxo de dinheiro vindo do exterior para recomprar ações e pagar dividendos, e não para novos investimentos.

 

Por enquanto a Reforma de Trump só teve resultado na inflação, que saiu de 2% no começo do ano para 2,5% atualmente. Como percebem então, entramos no 2º motivo. Com o temor de uma escalada da inflação americana o Governo Central americano (FED) vem gradualmente elevando a taxa de juros americana que em Março de 2017 era de 1% ao ano para atuais 1,75%. E em Junho desse ano, devemos ter mais um aumento para 2% buscando esfriar a pressão inflacionária.

 

Como o mundo financeiro se alimenta em torno de expectativas e boatos que se tornam realidades e fatos que geram novas expectativas e boatos, num círculo virtuoso ou vicioso (dependendo do seu ponto de vista), a expectativa pela subida da taxa de juros nos EUA eleva o preço dos títulos do governo americano. E quando isso irá parar vai depender do esfriamento da inflação americana.

 

Tudo isso para explicar a subida do dólar? Mas o que isto tem a ver com a taxa de Juros do Brasil e com meus investimentos?

 

Vamos lá! Uma consequência que poderá ser vista em pouco tempo com o aumento do dólar é o aumento de alguns preços, já que muitos componentes são importados e a moeda mais utilizada é o dólar americano. Assim, mesmo o consumidor comum começará a perceber aumento de preços em alguns setores da economia. E, dependendo de quanto o dólar subir, esse aumento de preços poderá se tornar generalizado, aumentando a inflação por aqui. Este temor que começa a surgir com a inflação já fez o Banco Central mudar de ideia e encerrar o ciclo de redução dos juros.

 

Resumindo, economia brasileira fraca, dólar subindo, preocupação com a inflação e a SELIC na sua mínima histórica, faz com que seja necessário muita cautela para investir. Ficar na poupança e naquele CDB do seu “bancão” definitivamente não é a melhor saída. Sabe aquele fundo de CDI que seu gerente de banco oferece?

 

Esqueça também. Se considerarmos que os melhores rendem 95% do CDI (eu disse os melhores), e se em 1 ano você paga 20% de IR sobre os rendimentos, sinto em lhe dizer que você estava em uma poupança travestida de fundo. Por último, o tesouro direto no momento (a não ser que você compre para vender apenas no vencimento) e acredito que até o final do ano, também não trará bons rendimentos até que o furacão das eleições passe.

 

A solução é buscar na categoria de multimercados, fundos que possuem bons históricos de rentabilidade em tempos difíceis e pensar no Longo Prazo e ao mesmo tempo se proteger parcialmente (cerca de 10% de seu patrimônio financeiro) em ouro e dólar.

 

Num próximo encontro falaremos que tempos difíceis são esses. Economia patinando, eleições presidenciais, EUA e China começando uma Guerra Comercial e porque boas notícias nos EUA são más notícias para o Brasil.

 

Forte Abraço,

Igor Cruvinel

Diretor Concierge de Investimentos na Doc Concierge

Igor Cruvinel

 

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